22 de julho de 2010

Brincadeiras: recursos pouco usados no cotidiano escolar.

Alguns educadores acreditam que "brincar por brincar" não contribui para o desenvolvimento infantil. Outros, consideram a brincadeira uma forma importantíssima de aquisição de conhecimentos. Fala-se muito sobre o assunto, porém, na prática pedagógica, os educadores ainda não conseguem inserir as brincadeiras no cotidiano da escola. Na medida em que é uma atividade ausente na escola, podem acontecer casos de obesidade infantil, de crianças mais agitadas, violentas, que não aprendem a conviver com conflitos, com menos atenção e concentração.

"As crianças pequenas permanecem muito tempo dedicadas à atividades de escrita e leitura, correm e se movimentam apenas durante o recreio e o horário do parque e desconhecem brincadeiras e brinquedos populares. Ou seja, as possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem através das brincadeiras e jogos ficam prejudicadas," acredita a pedagoga Fabiana Capistrano. Essas questões foram observadas por ela durante a preparação da dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Educação, da Universidade de Brasília (UnB). Ela analisou como os professores de educação infantil concebem e inserem o brincar na sua prática pedagógica.

Para a pedagoga, com a escolarização cada vez mais cedo, os colégios têm focado na alfabetização e acabam perdendo o referencial nas crianças. Ela acredita que a brincadeira precisa ser considerada um eixo de trabalho nos cursos de pedagogia, o que não acontece atualmente. "Ainda são poucos os investimentos em relação às brincadeiras nas escolas. Além disso, o brincar deve ser incluído nos programas pedagógicos das escolas de forma mais efetiva e planejada," acredita.

Segundo ela, o fato de não haver a prática da brincadeira nas escolas se deve a diversos fatores: a falta de formação inicial e continuada dos educadores, pouco investimento governamental nos espaços "brincáveis" dentro e fora da escola, falta de disponibilização de brinquedos e materiais nas escolas, além da inexistência de trabalhos com a comunidade para conscientização dos pais da importância dessa proposta e da necessidade de participação deles.

"Entretanto, acredito que o mais importante seria uma mudança de concepção dos professores e gestores sobre as brincadeiras na escola. A brincadeira tem extrema importância pois contribui para que haja avanços significativos na aquisição de valores, de conhecimento e até na aquisição de cultura das crianças," acredita.

Para defender sua tese, a pedagoga desenvolveu uma pesquisa num centro educacional infantil, que atende cerca de 430 alunos de quatro a seis anos. Lá há materiais que são utilizados freqüentemente pelos professores - como quadro de giz, parque, TV e vídeo, papel, tinta guache, lápis de cor, materiais voltados para matemática e língua portuguesa, corda. Mas há também materiais para brincadeiras que raramente são usados, como fantoches, fantasias e bambolês.

Ao acompanhar as aulas, a pedagoga percebeu que esses materiais não ficam à disposição dos alunos, são usados e depois recolhidos conforme a rotina da turma. Lá, os professores se preocupam com o brincar apenas em duas situações: na hora do recreio e na hora de ensinar português e matemática por meio dos jogos pedagógicos. Entre outras atividades, todas as turmas do colégio visitam, uma vez por semana, a brinquedoteca e as crianças ficam 30 minutos no parque diariamente.

Apesar das atividades desenvolvidas e dos recursos existentes, a situação do brincar é sempre separada do aprender. A pedagoga indica que, já que brincar é o interesse principal das crianças, seria importante se as brincadeiras fossem entendidas como possibilidade de desenvolvimento e aprendizagem. "A criança mostra e aprende o mundo - linguagem, raciocínio e interações sociais -, a partir do brincar. O que falta é essa compreensão e percepção por parte do professor", acredita.

Brincadeiras tradicionais, brinquedos eletrônicos, jogos de faz-de-conta, jogos com regras. Todas as brincadeiras são interessantes para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, acha. Porém, a pedagoga explica que é preciso analisar o contexto, a realidade em que essa criança está inserida. "Não basta "encher" as escolas de brinquedos industrializados e materiais pedagógicos. A escola precisa descobrir e tentar trabalhar a partir dos interesses e das necessidades de sua comunidade," alerta.

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